Terça-feira, 28 de Outubro de 2008

A MINHA VIDA COM (CONTO)

 

EU FIFI

Olhei de novo para o tanque, e lembrei-me da minha pobre mãe que ali fora afogada, onde tantos outros foram também afogados como ela. Albertine olhou para mim, de repente, e disse:

- Ora minha Fifizinha acho que tu estás chorando, sim tu derramaste uma lágrima. E assim, o mundo é muito cruel para todos nós. !Albertine – Albertine? Porque não vai cumprir os seus deveres? Para que eu lhe pago? Eu sou tão caridosa que nem a vou despedir. Venha imediatamente, porque temos visitas. Você não deve e nem pode ser tão preguiçosa, Albertine. A vós deixou de se ouvir e Albertine suspirou de frustração. Ah! E a guerra me trouxe a este ponto. Agora, trabalho 16 horas por dia para ganhar uma bagatela. Descanse pequenina fifi, aqui está uma caixa de terra para as suas necessidades. Suspirando de novo, afagou-me de novo e saiu. Ouvi os degraus de madeira rangendo sob o seu peso e depois veio o silêncio. Olhei de novo para a rua e vi tudo cheio de gente. Mme. Diplomata fazia as habituais mesuras ás visitas. Ela estava tão subserviente, que eu percebi logo que se tratava de gente importante. De repente lembrei-me que não tinha cumprido o ensinamento fundamental que a minha mãe me ensinou, que era inspeccionar muito bem todos os cantinhos da casa para saber por onde fugir em caso de alarme. Depois de tudo muito bem inspeccionado, disse para a minha mãezinha: pronto mamã, as tuas recomendações, estão satisfeitas.  

 

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Sexta-feira, 24 de Outubro de 2008

A MINHA VIDA COM (CONTO)

 

EU FIFI

Pelo resto do dia e toda a noite, permaneci naquele galho; com fome, febre, doente e receosa, indagava de mim mesmo o motivo pelo qual os seres humanos eram tão selvagens, tão destituídos de sentimentos quanto aos animais que dependiam inteiramente deles. A noite estava fria e um chuvisco que me encharcou, tremendo de frio mesmo assim o pavor que se apoderou de mim, impedia que eu tentasse encontrar um lugar melhor. A manhã fria, foi dando lugar a um dia que embora cinzento e encoberto, foi ficando mais ameno. De vez enquando lá  caia uma pancada de chuva. Mais tarde, naquela manhã, uma figura já minha conhecida, dirigia-se para a minha velha casa abrigo. Era a Albertine, Com os seus passos pesados e emitindo uns ruídos amistosos com a boca, dirigia-se para a arvore; Eu com um mio débil, respondi ao seu chamado; venha cá minha fifi, que eu tenho comida fresquinha para matar essa fome. Fui deslizando sobre o tronco da árvore até ao chão, e comecei a comer, e a Albertine enquanto eu comia, ia-me afagando no lombo com carinho. Terminada a refeição esfreguei-me nela com gratidão, sabendo que ela não falava a minha língua e eu não falava Francês, compreendia monos muito bem, eu saltei para o ombro dela e ela levou-me para casa, e foi pôr-me no seu quarto. Olhei ao redor, tomada de espanto e interesse, com toda a atenção. Era um lugar que eu não conhecia, mas vi com agrado, como os seus pertences, se prestavam para eu afiar as minhas unhas. Enquanto isto a Albertine foi para junto da janela e olhando a rua disse, soltando um ai de tristeza, é uma pena que no meio de tanta beleza exista tanta crueldade.  

 

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Quarta-feira, 22 de Outubro de 2008

A MINHA VIDA COM (CONTO)

EU FIFI

Na tarde desse mesmo dia, fui apanhada e jogada com brutalidade dentro de um caixote. Quase sem que eu me desse conta da companhia que me esperava, um gato velho, feio, indecente e sem pedigee, saltou sobre as minhas costas. Minha mãe não tinha tido tempo de me informar sobre as coisas da vida, por isso eu não estava preparada para o que me aconteceu. O gato velho e surrado saltou sobre mim, e eu senti um golpe chocante. Por momentos achei que alguém me desferiu um pontapé. Houve um clarão cegante de dor, e senti que algo se rasgava. Gemi de agonia e terror, e lutei ferozmente com o velho gato; o sangue irrompia de uma de suas orelhas e seus gritos vieram juntar-se aos meus. Como um relâmpago, a tampa do caixote foi retirada e olhos sobressaltados nos fitaram. Saltei e, ao fugir, vi o gato velho, eriçado e furioso, pular directamente sobre Pierre, que caiu logo de costas, aos pés de Mme. Diplomata. Correndo por um gramado, busquei o abrigo de uma macieira amiga. Subindo pelo tronco acolhedor, cheguei a um galho já conhecido e muito amado, onde me estendi, arquejante. As folhas farfalhavam com a brisa e acariciavam-me com gentileza. Os ramos oscilavam, rangiam e, devagar, levaram-me até ao sono provocado pelo esgotamento.

 

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Segunda-feira, 20 de Outubro de 2008

A MINHA VIDA COM (CONTO)

EU FIFI

Arquejando e com os ossos das mãos estalando, ela baixou o seu corpo pesadão até junto de mim, e enfiou o seu dedo gigantesco dentro de uma tigela com leite quente, e me convenceu com muita gentileza a beber. Por vários dias, estive sobre a sombra do pesar, o terrível assassinato de minha mãe, apenas porque tinha uma belíssima vós. Por vários dias não tive direito ao belo calor do sol, nem senti o som daquela vós amada, que era a minha mãe. Passei fome e cede, contando só com as escapadelas da Albertine, que me ia levar o essencial para eu não morrer de fome, pois eu ainda era nova demais para sobreviver por minha conta. Os dias e semanas, foram-se passando, e a pouco e pouco, fui aprendendo a cuidar de mim, lavar-me e pentear-me, Mas a minha constituição física estava a ficar ameaçada. A propriedade era imensa, e muitas vezes eu andava por ali, afastando-me dos pés desastrados das pessoas que andavam a trabalhar na quinta. As árvores eram os meus lugares favoritos, subia a elas e procurava uns ramos onde me pudesse empoleirar ao sol. Certa manhã, acordei com anseios estranhos e indefinidos. Emiti um brado de indagação que, infelizmente foi ouvido por Mme. Diplomata. – Pierre! – Arranje um gato qualquer para ela

 

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Sábado, 18 de Outubro de 2008

A MINHA VIDA COM (CONTO)

EU Fifi

Minha mãe tinha uma belíssima figura, com a mais negra de todas as caras e uma cauda que sabia erguer na vertical. Ganhara muitíssimos prémios. Um dia, quando eu ainda não tinha sido desmamada, ela entoou uma canção com uma vós bem mais alta do que o costume. Mme. Diplomata ficou furiosa e chamou o jardineiro. – Pierre – Gritou. – Leve-a imediatamente para o tanque, não posso suportar este barulho. Pierre, um Francês miúdo e de rosto pálido, que nos detestava, porque ás vezes o ajudava-mos no jardim, examinando as raízes das plantas para ver se estavam a crescer bem, apanhou minha bela mãe e a colocou dentro de um saco sujo e velho, afastando-se dali. Aquela noite, sozinha e com medo, chorei até dormir, em uma casinha fria, de onde Mme. Diplomata não seria perturbada pelos meus lamentos. Agitei-me incessantemente, com febre, em meu leito frio e mal cheiroso, feito de jornais muito velhos. As pontadas de fome sacudiam incessantemente o meu frágil corpinho, e eu não sabia como me arranjar. Aos primeiros alvores da madrugada, que ia surgindo com relutância pelas janelas cobertas com teias de aranha, tive sobressaltos de apreensão ao ouvir passos pesados na rua, junto da porta pararam os passos e de seguida a porta abriu-se e alguém entrou. “Ah!” – Pensei com alívio, é a Mme. Albertine, a arrumadeira lá de casa.

 

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Quinta-feira, 16 de Outubro de 2008

A MINHA VIDA COM (CONTO)

 

A FUTURA MÃE GRITAVA:

Eu quero um gato, um gato belo e forte! Ao que diziam as pessoas, ela fazia um barulho terrível. Era, entretanto, famosa pelo miado alto que emitia. Por sua exigência insistente, os melhores centros de criação de gatos em Paris foram vasculhados, procurando-se um gato siamês adequado, com indispensável pedigree. A vós da futura mãe tornava-se cada vez mais estridente e alta. As pessoas tornavam-se perturbadas, dedicando-se à procura com energias renovadas. Finalmente, encontraram um candidato bastante apresentável que foi oficialmente apresentado à futura mãe. Desse encontro, com o decorrer do tempo surgi eu, e apenas eu pude viver, pois os meus irmãos e irmãs foram afogados. Mamãe e eu vivíamos com uma antiga família Francesa que possuía uma propriedade espaçosa nos arrabaldes de Paris. O homem era um diplomata de alto posto, que viajava para a cidade quase todos os dias da semana. Muitas vezes não regressava à noite, mas permanecia na cidade, com sua amante. A mulher que morava connosco, Mme. Diplomata, era uma criatura muito insncivel e frívola. Nós, gatos, não éramos “pessoas” para ela (como somos para ele,) mas apenas coisas a serem exibidas nos chás, quando havia convidados.

 


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