A AVNTURA
Eu tenho um grande fraquinho pela poesia. E lembro-me que há talvez uns 55 anos, eu encontrava-me no Porto, e na Ribeira dentro do mercado municipal, onde andavam dois sujeitos de meia idade a cantar uns poemas que eles próprios faziam e imprimiam num papel muito fatela, e que depois iam para a rua cantar esses poemas e vendiam pelas ruas, praças e mercados. Custava 2 tostões cada exemplares, eu que andava a contar todos os tostões e todos eram poucos, lá escolhi de entre o stock que eles tinham, um dos que mais me agradou, e que ainda conservo. Resolvi publica-lo, também isto é um retalho de uma cultura em vias de extinção ou já extinta. Tal como alguns pregões de Lisboa, que eram muito engraçados, tais como: É o diário, Século. Ou então, Ó meninas querem amêijoa? Agora o mesmo pregão entendido pelo ouvido malicioso. É o diabo, cerca-o. Ó menina se quer eu mexo-a. Então foi este o drama do nosso personagem. Versejado em jeito de cestilhas creio.
Um dia o José da Aurora,
Disse à mulher vou-me embora,
Para a cidade trabalhar,
Eu não sei quando regresso,
Mas se eu fizer sucesso,
Terei muito que contar.
Quando à pensão chegou,
Pela empregada chamou,
Se o podia servir,
Quero comer e beber,
E também se poder ser,
Um quarto para dormir.
À noite para se deitar,
A empregada o foi levar,
Ao quarto vinte e Sete,
E no vinte e seis ao lado,
Onde estava um noivado,
Disse-lhe que era a retrete.
O José da Aurora coitado,
De noite viu-se apertado,
E ao vinte e seis foi bater,
Quem lá está dentro senhor,
Abra a porta fás favor,
Que eu também quero fazer.
Foi alguém para se rir,
Que o mandou aqui vir,
O noivo lhe respondeu,
Você está enganado,
Vá fazer a outro lado,
Que aqui dentro faço eu.
Já me vão doendo as tripas,
Abra que são duas sanitas,
Quem disse foi a empregada,
O noivo sem mais conversa,
Abriu a porta depressa,
E pregou-lhe uma trancada.
Quando a casa regressou,
O José à mulher contou,
Todas as atrocidades,
Quis ir fazer na privada,
E levei uma trancada,
Por dizer umas verdades
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