Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2009

EU

 

A Morte o Amor a Vida
Julguei que podia quebrar a profundeza a
imensidade
Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco
Estendi-me na minha prisão de portas virgens
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas
Do veneno absorvido por amor da cinza
A solidão pareceu-me mais viva que o sangue·
Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida
Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro
 [nem o orvalho
Nada nem à frente nem atrás nada inteiro
Havia eliminado o gelo das mãos postas
Havia eliminado a invernal ossatura
Do voto de viver que se anula·
Tu vieste o fogo então reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de
[estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidão fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente
[para a luz
A vida tinha um corpo a esperança desfraldava
 [as suas velas
O sono transbordava de sonhos e a noite
Prometia à aurora olhares confiantes
Os raios dos teus braços entreabriam o nevoeiro
A tua boca estava húmida dos primeiros orvalhos
O repouso deslumbrado substituía a fadiga
E eu adorava o amor como nos meus primeiros
 [tempos
Os campos estão lavrados as fábricas irradiam
E o trigo faz o seu ninho numa vaga enorme
A seara e a vindima têm inúmeras testemunhas
Nada é simples nem singular
O mar espelha-se nos olhos do céu ou da noite
A floresta dá segurança às árvores
E as paredes das casas têm uma pele comum
E as estradas cruzam-se sempre
Os homens nasceram para se entenderem
Para se compreenderem para se amarem
Têm filhos que se tornarão pais dos homens
Têm filhos sem eira nem beira
Que hão-de reinventar o fogo
Que hão-de reinventar os homens
E a natureza e a sua pátria
A de todos os homens
A de todos os tempos.·
Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa
TIRADO DA NET.

publicado por Fisga às 09:00
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3 comentários:
De M.Luísa Adães a 25 de Fevereiro de 2009 às 18:03
"Eu"

é um poema de encanto, de beleza, de quebranto e mais, foi traduzido por um poeta dos Maiores :

António Ramos Rosa

Muito bem escolhido o texto; admirável! Soubeste copiar! Beijos!

Quanto à imagem da oferta, vai ao final do poema, no
qual ainda não reparaste, e lá encontras amigos.
Não podes tirar essa imagem e copiar a de Amigos ?

Vais à Admªº. do blogs, cortas essa imagem e colocas a outra, depois de a copiares. Mas se faz confusão e dá trabalho, deixa ficar.
O texto devia ter sido copiado do blogs de Tibéu, está
mais completo, eu abreviei algumas coisas ...Eu tinha
pedido para ires ao blog de Tibéu! Passou... paciência!

Bºs, Maria Luísa


De Fisga a 26 de Fevereiro de 2009 às 10:53
Obrigado por vires a este espaço teu por direito. Quanto ao poema eu estou de acordo contigo, é muito bonito, e essa foi a razão de eu o publicar. Adorei lê-lo. Quanto ao prémio, não sei se já viste e se te agrada assim. Ainda o alterei ontem à noite, com muita pena minha, porque já havia quem o tivesse ido recolher. mas eu acho que era desonesto da minha parte, podendo fazer melhor, e não fazer e aproveito para te pedir desculpas, por não ter reparado bem no que ti me disseste, eu sou um pouco despassarado e depois ando sempre com pressa, e dá isto. Desculpa mais uma vez E um beijinho na face de um amor em forma de gente. Eduardo.


De M.Luísa Adães a 26 de Fevereiro de 2009 às 11:25
Eduardo

ainda não vi o prémio; podias não ter tirado, eu dei essa chance, mas talvez não reparasses.

Mas não esteja aflito, está tudo muito bem!

Bºs, M. Luísa


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