A COR NEGRA DA VERDADE
Divergem as nossas opiniões,
Divergem os nossos pensamentos,
Não vale a pena ilusões,
É puro fruto dos tempos.
Tempos que eu já passei,
E o mesmo acontecerá contigo,
Depois dos teus tempos passarem,
Tu estarás de acordo comigo.
O tempo que tu estás a passar,
Eu também já o passei,
E como tu estás a pensar,
Faz tempo que eu já pensei.
Eu sei que ao pensares assim,
Que o fazes no bom sentido,
Mas vais ficar desiludido,
E passarás a pensar igual a mim.
Discordas de mim
e não me queres ouvir,
Incomoda-te a minha filosofia,
Mas há-de chegar um dia,
Em que mudarás de opinião.
E aí vais dar-me razão
E darás valor á minha visão.
Grande mudança em ti se vai dar,
Porque eu já não vou estar contigo,
Mas tu vais tomar o meu lugar
E serás tu a dizer
o mesmo que eu agora te digo.
E aí os que te ouvirem,
Não te vão acreditar,
Vão pensar igual a ti,
Quando me ouves falar.
Mas um dia há-de chegar,
Que mudará os teus pensamentos,
É tudo fruto dos tempos,
Os passados.
Os presentes e os que estão para chegar.
Sei que isso te vai incomodar,
Como me incomoda a mim agora,
Mas tens que saber desculpar,
Como eu te desculpei outrora.
Raiva desilusões e Gloria,
Desgostos arrependimentos e tristeza,
Amor ódio e paixão,
Tudo faz parte da nossa história,
Tudo semeado com a mesma destreza,
Pela nossa própria mão,
No âmago da nossa memória.
Onde acaba toda a história,
Verdadeira ou vitual,
Onde só fica a memória,
Do que foi o bem e o mal.
Maio/1971 Eduardo Gonçalves