Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2009
O HOMEM SEM QUALIDADES
A maior parte das pessoas tem um corpo que, ou é desleixado, formado e deformado pelo acaso, e que parece quase não ter relação com o seu espírito e o seu carácter, ou então é recoberto pela máscara do desporto que lhe dá o aspecto daquelas horas em que ele tirou férias de si próprio. Essas são aquelas horas em que um homem desfia o sonho diurno da sua boa figura, que foi buscar às revistas do grande mundo da elegância e da beleza. Todos esses jogadores de ténis, cavaleiros e corredores de automóveis, bronzeados e musculosos, com ares de baterem todos os recordes, apesar de, em geral, dominarem apenas razoavelmente a sua especialidade, essas damas bem vestidas ou bem despidas, sonham sonhos diurnos, e só se distinguem do comum dos mortais que têm sonhos despertos porque o seu sonho não permanece encerrado no cérebro, mas sai para o ar livre, como projecção da alma das massas, configurada de forma corpórea, dramática, quase apetecia dizer, na linguagem de fenómenos ocultos mais que suspeitos, ideoplástica. Mas têm em comum com os vulgares construtores de fantasias uma certa banalidade dos seus sonhos, tanto no que se refere ao conteúdo como à proximidade do estado de vigília.
Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades' TIRADO DA NET.
Segunda-feira, 6 de Outubro de 2008
O HOMEM
O homem; Esse ser maravilhoso, Quando quer: Ama,
Ajuda, bajula, sorri; Mas se odeia: Machuca, fere, entristece;
Quero entendê-lo, Pouco compreendo, Às vezes acho-o...
meio esquisito; Porque o homem despreza, Até os que o amam,
E ama os que o desprezam... também! É porque percebemos,
O belo, e o feio; É porque somos deuses De um elo perdido?
De um futuro próximo? Um passado louco? Não explica o presente,
O que pensa e diz, Pouco justifica, assões, omissões...
Qual seu interesse, Quando é maravilhoso! Qual sua intenção?
Quando diz amar? O que quer em troca? Quando ajuda?
Por que se arrepende? Quando odeia e fere? Por que não se cala,
Quando quer falar? Por que fala pouco, Se tem que gritar?
Nessa hora, homem, Quase o compreendo, Até dá vontade, De te abraçar,
Quem sou eu portanto, Para te julgar? Pois também sou homem...
E o que somos, nós homens?
de Jorge Eleneu de Oliveira
música: http://www.youtube.com/watch?v=28Kt-v7U1bU&eurl=http://minha